LUA
Chegas para pratear a minha noite
hoje um pouco como o teu leito
entras nos caminhos do meu pensamento e atravessas
lentamente os corredores do meu silêncio
Deixo-me levar em teus braços frios mas envolventes
e sussurro palavras que só tu entendes
em linguagem de confidentes por tanta companhia
buscar em ti
és o meu refúgio perfeito para solidões forçadas
é no teu xaile bondoso com franja de prata que me acolhes e embalas
e proteges das marés e ventos fortes
Nunca partes sem afagares as minhas mãos
num beijo sofrido como mãe faz a um filho
em certezas de névoa das saudades que deixas
e deslizo em ti não com pressa de te deixar mas de chegar
a pedaços de outras paisagens
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A TI
Que mulher não espreita em nichos recônditos de si uma emoção perdida
que faz doer mas desnuda intimidades
que em passo arrepiado de amargura atravessa o tédio
em ruas estreitas sem ecos de alguém à entrada da noite
locais solitariamente percorridos em tempos reinventados
Volta o rosto
e reconhece as sombras que denunciam
destroços de vida desmoronada
não foge às escarpas inquietas
ao destino de um grito
ou ao percurso de neve antiga
segue em passos sem tribo o silêncio de locais sem voz
enlaça nos braços um futuro ávido de cor
de palavras encantadas em madrugada sem vestígios da noite
é tempo de travessia
acender os dias
dançar os sonhos e derrubar muros
desfaz em si névoas de outros tempos
encontra-se no lugar em que os rios se cruzam
faz ecoar solitários ventos de um destino ébrio de luz
acorda com a certeza de um poema a pontuar a manhã
e asas desenhadas em sorrisos
Cada mulher guarda em si o lugar onde inadvertidamente se refugia
e se deleita em pétalas de muitas flores em forma de coração.
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UM CESTO DE ROSAS
Pauto a minha vida pelos momentos vividos
cada um é um ponto tricotado na minha manta
este foi um momento de cor de perfume de emoções de rosas muitas rosas
um retalho de amizade
que só tem sentido quando
se faz tudo para a manter e desenvolver
cuidamos com o coração e queremos com a alma
se fala e entende em silêncios adivinhados
percebemos quão fundamental e necessária a sua presença
tenho a grata felicidade de não ter andado à procura
mas de ter encontrado alguém que como eu investe nesta
dualidade de sentimentos
é uma amizade eterna da alma
porquê não genética?
falo de ti amiga para ti
hoje fui feliz
tu fizeste acontecer felicidade
quem a não ser uma pessoa como tu
capaz de tamanha surpresa de tamanha grandeza
Fim de tarde quieta e soalheira
entras em minha casa envolta em ternura
e disfarce de ansiedade
trazes um enorme cesto
uma mancha escarlate e aveludada preenche o teu abraço
cruzamo-nos em olhar lampejante
fixo os teus olhos negros
por instantes não reconheço o momento
entre nós um cesto de rosas muitas rosas
Se fosse um sonho...seria um de encantar...
em tuas mãos uma tiara cravejada de rubis
irradiando a nossa amizade em varanda
de um qualquer castelo perdido em noite sem estrelas
para realçar a pureza de cada pedra preciosa
Não sonhei
são rosas preciosidade maior
que ofuscam a nossa presença
era tempo de as olhar
de abraçá-las também
de sentir e absorver a macieza o cheiro a cor
para eternizar em mim as sensações únicas de um momento puro
de gratidão a ti
a mim por ter sido capaz de construir esta amizade
Mas que fortuna me entregas!
um cesto de rosas
cada rosa tem em si vivências deste caminho
cada pétala conta alegrias e sorrisos medos e tristezas
segredos e cumplicidades
se me permites guardarei cada rosa no meu coração
uma por cada ano vivido
a cada uma vou segredar pedaços de memórias e sonhos
e cantar o nome dos que amo
mas...como o tempo de as olhar é curto demais para mim
resolvi fotografá-las para as guardar
já que a beleza de uma flor é efémera
mas nunca o momento
para quem oferece e recebe
Amiga partes com as mãos perfumadas deixando o meu coração envolto de cor e alegria
viver é isto partilhar momentos cativar
para ti também um cesto de rosas
Pinta-se em tons de fogo um poente em promessas de um amanhã suave e quente o meu olhar inunda de luz oceânica este retalho tricotado com carinho
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Disputar
Hoje venho aqui, repor uma falha enorme, um erro gráfico.
Inadmissível, eu sei, mas...estaria eu, embora inebriada com o espectáculo, a pensar no estado em que está o meu País?
Possivelmente, nem muitos concertos nos fazem esquecer.
Então, sem demora, digo: disputar e não déspota.
As minhas desculpas ,até breve.
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ACONTECEU CULTURA
Hoje, ainda inebriada de cores, sons, cheiros a sal e maresia, sob uma lua escondida em manto violeta salpicado de pingos prateados, sinto que a magia pode acontecer. Aconteceu ontem. Numa mistura infalível. A voz de quem canta com o coração, pondo em cada palavra o sentimento de um povo, o ritmo quente de miscelâneas culturas e para magia perfeita, os músicos, esses magos, conduzidos por um grande maestro.Estava perfeita a tela para dar início a um quadro, pintado a muitas cores, para ser visto, admirado e sobretudo sentido e muito vivido.Fiz parte da imensa moldura que viria a completar tão brilhante quadro.Será o primeiro de muitos, é o desejo de uma cidade sedenta de cultura e cansada a não ser chamada a aplaudir de forma esfuziante como ontem fiz e vi acontecer.Pintado a várias mãos, prometem os "pintores", "artistas", continuar a sua obra.
«O Música com Sal», fez acontecer um evento que pessoalmente, considero de dimensão soberba, pela aposta em grandes nomes; Mariza uma das melhores fadistas portuguesas, Gilberto Gil o músico brasileiro que defende e propaga a cultura do seu país, o grande maestro
Jaques Morelenbaum que acompanhou a digressão da nossa Mariza do outro lado do Atlântico,regeu a fabulosa Orquestra Filarmonia das Beiras.
ACONTECEU CULTURA, ontem, na minha cidade. Cidade de cheiros e cores, luz e sabores únicos.
Como aveirense, não posso deixar de vanglorizar, agradecer e pedir mais, a todos os jovens, eu sei que são muito jovens, que promoveram e deram provas de que são capazes de fazer muito, pela cidade que também é a deles.
A cidade estava lá, no estádio, não se despotava um torneio ou taça de futebol, mas a fusão de culturas, de gentes...não há como a música para quebrar as barreiras do descontentamento ou do preconceito.
O meu BEM HAJA a quem, ainda acredita
que um povo culto é a imagem do próprio
País e uma herança inestimavel.
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AS CORES DE UM RETALHO
Contigo tricotei um retalho
que na minha manta fica
a manta de tantas cores
de todos os momentos
a manta desde sempre iniciada ...continuada...
ponto por ponto
sem fim previsto
tricotei este retalho com a cor do coração
fios de sol em dias esperados
verde de planícies sonhadas
azul de águas longuínquas ...
outros fios de cristal
outras cores fui misturando
sempre guardadas em mim...
num rendilhado aberto
dei de mim
o violeta o roxo e outros fios
o aveludado do damasco
o aroma do malmequer
a lembrança do que não tive
em cada ponto
tricotava sonhos de muitas cores
em noites demoradas
de insónias dolorosas
desejava partilhar
todas as cores em mim guardadas
ponto a ponto
dava ao meu retalho
voltas e voltas
na incerteza de encontrar
a cor de um abraço
de um beijo...
de um gesto...de um sorriso
de cruzar o meu olhar no teu
o retalho entristecia
lentamente...sem as cores sonhadas
sem a cor do coração
já cansadas estas mãos
de tanto tecer...tanto...
mãos vazias de nada
sonhos desfeitos
cores sem brilho...
mesmo em noites de lua cheia
o meu olhar perde-se
na imensidão deste retalho
em fios e pontos entrelaçados
na penumbra azulada
de um novo amanhecer
procuro-me...
procuro-me
em esperança não perdida
salpicada de púrpura
em rio de prata.